quinta-feira, 2 de junho de 2016

Você não está só!



Cada vez que eu abro o facebook, leio jornal, vejo TV vem só notícia triste: estupro, golpe politico, diminuição de investimento em educação e saúde, porradaria contra manifestantes, crueldade conta mulheres, índios, gays, judiciário com aumento exorbitante de salário, professores sendo achincalhados, artistas chamados de vagabundos, escolas precarizadas, alunos apanhando, pessoas usando o nome de Deus para roubar e enganar, políticos debochando descaradamente da população civil.
Sei que muita gente tá com a mesma sensação que eu... Um nó na garganta, um bolo no estômago, um sentimento de impotência diante de tanta atrocidade, tanta mesquinhez, tanta violência em vários níveis. "O mundo está ao contrário e ninguém reparou"? O mundo sempre foi assim mas agora a gente tem mais acesso ao que acontece a nossa volta?
O que sei é que só com muita fé, perseverança e luta pra resistir a esse cenário de tanto retrocesso em pleno século XXI.
Diante disso, qual meu papel nisso tudo? Qual minha missão neste período em que tenho oportunidade de viver nesse mundo? Como fazer a minha parte?
Sei que esses pensamentos que são meus também tem passado na cabeça de muitos amigos, conhecidos, pessoas que estão tão perplexa quanto eu diante de todas estas notícias.
É pra vocês que escrevo hoje: pra saberem que não estão sozinhos, para se sentirem acolhidos, abraçados, impulsionados. Escrevo  por saber que também não estou só. Estamos no mesmo caminho, nos esforçando para ser melhores pra nós mesmos e para o outro. Estamos juntos! É só assim podemos modificar alguma coisa nesse mundo insano!!
Vamos construir nosso presente através da força da coletividade. Vamos agir, orar, refletir, criar, ensinar, resistir, lutar,   aprender, dialogar, afetar, dançar, emponderar, colaborar, acarinhar, ser feliz, fazer feliz...
Respiremos, levantemos a cabeça e sigamos acreditando e lutando pela força do coletivo, na importância da empatia, na necessidade mais que urgente do olhar para o outro.
"Amemos uns aos outros"
Sejamos luz! Sejamos amor! De verdade!

terça-feira, 24 de maio de 2016

Reinaugurando afetos

Oi, galera!
Estou reativando meu blog por sugestão e inspiração da minha amada amiga, madrinha, parceira de trabalho e de vida Bruna Campello...
E pra reinaugurar este espaço divido com vocês um texto que escrevi ainda muito mobilizada e atravessada por uma situação linda que me aconteceu em 2013, dois dias antes de meu padrasto se transformar numa estrela no céu. Hoje percebo que Deus tinha muito a me dizer com tudo aquilo e reler esse texto no atual contexto da minha vida me traz uma imensa esperança e uma grande vontade de fazer tudo valer a pena! Espero que ele também inunde a terça de vocês com muita cor e vida!
Um grande beijo meu


"Rio, 10.06.2013
Ainda estou incrivelmente desnorteada com o que aconteceu hoje. Preciso dividir isso aqui! O texto vai ser longo, mas é um testemunho pessoal de uma situação linda e surpreendente que vivi hoje. Se puderem parar pra ler, acho que vai valer a pena!
Bom...Nem todos sabem mas eu tenho um blog. Não escrevo regularmente lá ( lê-se quase nunca). Meu ultimo post data do dia primeiro do ano passado e foi através dele que essa grande surpresa de hoje se deu.
Nessa minha ultima postagem eu falo sobre um texto lindo da Nathália, uma menina iluminada de sorriso encantador que faleceu num acidente de carro em janeiro de 2008. Eu nunca conheci essa menina, mas suas palavras e seu largo sorriso me tocaram tão profundamente que em muitos momentos difíceis do ano passado ( e não foram poucos) eu recorri a elas para adoçar e fortalecer meus dias.
Bem... Achei que meu encontro com essa estrelinha tivesse se completado com esse texto que escrevi, o que já seria uma experiência muito profunda. Mas Deus sempre nos enche de surpresas e inexplicáveis situações que nos fazem perceber a sua presença tão plena no meio de nós.
Hoje de manhã, uma amiga muito amada me apresentou uma tal caixa de "spam" de mensagens no face. Nunca soube que isso existia por aqui, mas fui olhar pra ver se tinha alguma mensagem lá que eu ainda não tivesse visto. Qual não foi minha surpresa quando me deparei com palavras lindíssimas e que me fizeram chorar de soluçar. Era um texto escrito pela mãe da Nathália, D. Ignez. Nele, ela me agradecia pela postagem do blog que eu escrevi inspirada pelas palavras da filha dela e me explicava como ela tinha tido acesso a mim e ao meu blog, mesmo sem me conhecer. Lindas palavras inundadas de emoção e saudade me contavam sobre a Nathália e sobre outros textos seus encontrados depois de sua morte. Textos escritos por ela com apenas 13 anos.
Eu? Estou atônita até agora... Um misto de surpresa, alegria e saudade de uma pessoa que eu nem cheguei a conhecer mas que já transformou minha forma de ver a vida!
Eu só tenho a agradecer a Deus por esse presente de aniversário (é, ta chegando...) e por permitir que eu viva esse momento tão belo! Obrigada, minha querida Maria Ignez, por sua força, sua coragem e suas palavras que me fizeram ter mais certeza de que a Nathália estava certa: todos nós temos uma missão nesse mundo e a vida precisa ser vivida a cada instante da forma mais sublime possível! D. Ignez, não conheci a Nathália, mas amo sua filha: ela faz parte da minha vida da maneira mais sagrada que alguém pode estar na vida do outro."

O texto que inspirou esse encontro lindo ta aí embaixo. É a penúltima postagem, Logo abaixo tem as palavras da mãe da Nathália. Elas são bálsamo e luz. Tirem um minuto para lê-la. Vale muito a pena!



domingo, 15 de janeiro de 2012

Aproveitar enquanto há tempo... por Nathália Barreto



Hoje preciso partilhar uma experiência que vivi no último dia de 2011. Se tiver um tempinho e uma dose de paciência (vou logo avisando que o texto é um pouco longo) seria importante pra mim dividi-la com você.

Eu estava me arrumando pra virada, pensando em coisas que imagino que todo mundo pense nas últimas horas do ano: o que foi bom, o que não foi, o que mudar, decepções, alegrias, expectativas, pessoas que marcaram, sonhos, etc...

Bem... Enquanto me envolvia nesses pensamentos e me enrolava entre maquiagens, roupa, penteado e “como vou começar o ano bem”, dei de cara com a foto de uma menina desconhecida com alguns dizeres impressos. Digo “dei de cara” porque acabamos de passar por uma obra aqui em casa, e volta e meia descubro uma coisa no meu quarto que não costumava estar ali antes.

Curiosa como sou (quem me conhece sabe, né) tratei de ler o que estava escrito naquela foto.Aquelas palavras, que poderiam ser encontradas em qualquer livro de auto ajuda, palestras religiosas ou postagens do facebook  me rasgaram por dentro. O que se passou depois foi uma mistura de culpa, medo e esperança, com uma boa dose de tristeza. 


Culpa por tantas vezes ter reclamado sem necessidade, por ter chorado por coisas e pessoas que não faziam a mínima diferença, por ter gasto tempo e energia com situações que não valiam a pena. Medo, de não saber  fazer diferente, de não conseguir mudar, de ficar imobilizada pelas frustrações. E esperança... Muita esperança: de um ano diferente, de atitudes diferentes, de novas realizações, de sentimentos intensos e pessoas comprometidas com o afeto e o carinho. Esperança de mais amor em mim e nos outros.

A parte da tristeza eu explico agora...

Depois de ler o texto, reparei que embaixo, em letras menores, estavam impressas umas datas. Demorei pra entender o que eram porque ainda estava capturada pelas palavras daquela menina com um sorriso tão iluminado. As datas eram do nascimento e da morte dela. Ao fazer as contas, percebi se tratar de uma menina de 18 anos. Uma menina... Meu Deus, uma menina, uma menina... E era só isso que eu conseguia repetir, como se tentasse me convencer daquilo tudo.

Chocada, procurei minha boadrasta pra saber de quem se tratava. Ela me disse que era filha de um amigo dela e do meu pai. A família estava em um passeio de carro quando o acidente aconteceu. O pai , a mãe e a irmã sofreram lesões leves. Ela morreu na hora.

Depois do relato, conversamos sobre todas as dores que acompanham a morte de alguém tão jovem: a culpa, o sofrimento, a saudade- sentimentos que aquela família tinha experimentado e que certamente ainda experimentava, apesar de 4 anos já terem passado.  Minha boadrasta e eu ficamos ali, na cozinha, imersas cada uma nas suas impressões, sensações e pensamentos sobre tudo aquilo.

Saí e fui pro quarto. Precisava ficar só.

Naquele instante, trancada no meu quarto e sem conseguir tirar os olhos daquele sorriso, agradeci a Deus. Por tudo. Pelas dores, fracassos, alegrias e esperanças... Pela família que tanto amo, pelos amigos que conquistei e que me conquistaram, pelo amor vivido... Tudo, tudo estava presente no meu papo com Papai do Céu. Cada detalhe de mim que agora eu podia enxergar em letras garrafais nas palavras daquela menina. Aquele texto tinha sido um soco no meu estômago. Um soco necessário, desses que a gente precisa levar pra aprender a respeitar a vida!

E então eu chorei... Muito! Um choro que me lavou por dentro e que irrigou a sementinha da esperança de um ano intenso, verdadeiro... De um ano que seja meu! Que seja nosso!

Acho que não tenho mais nada pra falar... Vou deixar que o texto da Nathália fale por si.

Pra esse lindo anjo eu deixo meu mais sincero agradecimento: pela sua fé na vida e nas pessoas e por ter me transformado sem eu nunca tê-la conhecido!
E que as palavras dela sejam um soco no seu estômago tanto quanto foram no meu!
Acho que é isso que eu desejo pro seu ano: mais porradas como essa que nos esfreguem na cara que a vida sempre vale a pena!!!!!

“Aproveitar enquanto há tempo

Muitas pessoas não dão valor à vida. Adiam as coisas sempre. Não percebem que a vida é curta e passageira. Deixam tudo pra fazer amanhã. Mas afinal, existe amanhã? Como saberemos que no dia seguinte estaremos vivos?
Devemos aproveitar a vida, vivê-la bem, correndo atrás dos sonhos, não nos arrependendo do que fizemos ou deixamos de fazer. Temos que viver conscientemente, em busca da felicidade, construindo a paz.
Na vida, tudo é passageiro. Os momentos passam, as pessoas se vão, e a lembrança fica. Devemos amar as pessoas ao máximo, aproveitar cada pequeno momento, pois é único, e pode ser o último. Pessoas se vão, momentos passam, mas nós ficamos. E temos que ter forças para seguir nessa caminhada, ultrapassar obstáculos e levantar, com mais vontade de seguir, a cada tropeçar, como Jesus fez ao carregar a cruz. Afinal, estamos à prova o tempo todo.
Ninguém veio a este mundo por brincadeira. Cada um tem sua missão. A vida não é fácil, devemos sempre estar aprendendo, com mínimas coisas, com nossos erros, para que consigamos acertar. Temos que viver a vida bem, aproveitando-a para que ao chegarmos ao fim, termos ao menos a certeza de valeu a pena vivê-la”.
Nathália de Souza Barreto

terça-feira, 15 de março de 2011

Entre o ser e o estar só...





 “ Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
  Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida... Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma....”


Esse texto do nosso genial Chico Buarque de Hollanda anda ressoando no meu coração...
Ando pensando no desafio de experimentar a felicidade quando se está só. Veja bem... Estar não é ser. Há uma diferença enorme entre estes verbos, apesar de na língua inglesa eles serem conjugados a partir de um só: to be (ainda bem que, aportuguesados que somos, temos a graça de transitar por dois verbos que, na essência, são de fato bem diferentes).
 Na definição do dicionário, o verbo estar tem um significado bem claro: Ser apenas em um dado momento.
O verbo ser, ao contrário, indica uma condição implícita, intrínseca. Portanto, quando você diz que é sozinho, está afirmando que, na essência, você se caracteriza pela solidão e que tal sentimento faz parte da sua condição humana.Você está declarando que a solidão é existência real e absoluta no seu coração.
Não... Neste conjugar de verbo eu não acredito! Não posso acreditar! Não é possível que nos limitemos a condição de sermos sós. Ninguém nasceu para ser só. A condição de ser sempre uma mesma coisa não pertence a nossa humanidade.  Para sempre é muito tempo!
A mudança é um direito e precisamos brigar para que não caiamos no terrível erro de fecharmos nossa existência no que somos hoje. Como nos diria Padre Fabio de Melo: “Prepara o que serás no que és” ou.... nas palavras do nosso querido  Gabriel, O Pensador: “Seja você mesmo mas não seja sempre o mesmo” (isso me faz lembrar que meu irmão sabe das coisas: ele vive repetindo essa frase pra mim).
Então se você se sente só, pense que este estado não é seu... Pode estar em você hoje... Por enquanto! Lute para sair dele! Parafraseando nosso Chico Buarque: “Amanha vai ser outro dia!”
 Se não pode mudar o que está (veja bem, está) acontecendo hoje na sua vida, deixe que isso mude você! Olhe pra frente, para fora, pro alto... E principalmente, olhe para dentro!A solidão só estará em você enquanto você não se permitir encontrar...
Descubra o que em você ainda pode ser encontrado... Encontre-se como sua melhor companhia... Permita-se conhecer e reconhecer... Refaça os laços com você mesmo... Mude, mas não se perca de você mesmo!
Confesso que é extremamente difícil... Mas é possível!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

“Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas...”





Essa frase anda ecoando dentro de mim...
Tudo começou com essa música do Gonzaguinha. Ela me levou pra lugares de mim que há muito eu não freqüentava, que andavam meio esquecidos por conta das várias coisas que tem acontecido na minha vida. Me fez pensar sobre a temporalidade das relações de hoje e sobre como a transitoriedade dos encontros pode nos tornar homens e mulheres transitórios também.
Zygmunt Bawman, um importante sociólogo polonês da atualidade propõe a observação de uma fragilidade crescente nas relações humanas – o chamado amor líquido criado dentro de uma modernidade líquida, em que as relações se estabelecem com extrema fluidez, que se movem e escorrem sem muitos obstáculos, em constante movimento.
A rapidez da troca de informações e as respostas imediatas que esse intercâmbio oferece às decisões diárias são evidências compartilhadas por todos os que estão experimentando o mundo atual. E isto inclui principalmente o modo como lidamos com nossas relações. Nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais, amigos, familiares se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo de suas relações, de seus sentimentos.
Estamos protagonizando o tempo do descartável e isso nos sugere que nos sintamos também assim. Relações liquidas geram sentimentos líquidos, pessoas líquidas...
Talvez toda essa explicação de Bawman sobre o mundo atual nos obrigue a pensar sobre a inquietante frase de Gonzaguinha, que deposita nos encontros humanos uma beleza por vezes pouco percebida por nós... Ela fala da riqueza que nos faz ser humanos! Fala do lirismo dos encontros, da grande experiência que é conviver, ter a chance de dividir a vida, os sonhos, as dores, os momentos com o outro.
Fico pensando sobre o valor do encontro que nos fala Gonzaguinha. Cada pessoa que passa por nós deixa um pouco de si e leva uma parte de nós. Cada olhar, cada palavra pode representar um começo ou um fim, pode nos acolher ou expulsar da vida de alguém. 
Quantas pessoas passaram pelos meus olhos hoje? Como olhei pra elas? O que eu tenho deixado na vida das pessoas que passam por mim? O que delas fica em mim? Talvez se a gente se questionasse sempre sobre de que forma estamos permanecendo na vida do outro, as dores pudessem ser menores e as feridas menos dolorosas.
 Cuidemos para que possamos sempre criar encontros que nos possibilitem descobrir o essencial que há em nós. É muito bonito percebermos que, na oportunidade de encontrar o outro, também encontramos um pouquinho daquilo que somos. Atravessar para o outro lado de si é um jeito bonito e diferente de ver quem está do lado de fora de nós.  
Cuidemos para que as pessoas não se tornem apenas objeto de nossa satisfação. Saibamos elevar o outro ao lugar do sagrado. Numa época em que tudo é temporário, lutemos por relações que permaneçam em nós, para que possamos olhar para o mundo e ver que nele há a nossa essência, que em tudo que fazemos há um pouco do que somos. Para que ao olhar o outro eu possa ver o que há de meu nele...
Difícil? Pode ser... Mas eu não desisto de tentar...




segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ser eu mesma é um desafio...

         Normalmente eu não sei dizer muito, só sei sentir. Há dias em que as palavras não são capazes de traduzir o sentimento. E por isso a solidão se instaura. Ela acontece quando qualquer palavra torna-se pequena para expressar a sensação. Então eu me calo... e choro! Mas também há dias em que preciso torcer-me, espremer-me, para retirar de mim um pouco do que sinto para não afogar meus pensamentos no mar dos sentimentos que não sabem ser ditos. Sou uma pessoa dos sentidos, mas especialmente hoje preciso me esconder (ou revelar) nessas palavras.
Ando pensando sobre essa história de sentir-se especial. Tudo por conta de uma frase que não me deixa... “Se quiser entrar na minha vida, tira a sandália dos pés, pois o lugar em que você está entrando é sagrado”. Essa bela frase só poderia ser do meu querido padre Fabio de Melo, que com sua sensibilidade me tira do lugar comum em que me escondo e me leva a lugares de mim mesma que nem eu reconheço.
Acredito totalmente nessa tal sacralidade que envolve cada um de nós, humanos com virtudes e limites. Acredito que uma pessoa é muito mais que um efeito que se possa notar, ela é a mistura de muitas causas às vezes desconhecidas, mais que pela força da curiosidade da aproximação, a gente pode com carinho desvendar. Cada pessoa é mistério que merece ser preservado. Por isso o olhar superficial sobre o outro pode machucar.
Olhar o outro na superficialidade é uma das piores agressões que podemos cometer. Perceber que o outro nos olhou com pressa demais, que não teve tempo, sensibilidade, maturidade para nos buscar, nos desencobrir, é coisa que fere demais a gente. Dói sentir-se como qualquer um, ou como ninguém. Não sei se você já passou por isso. Eu já... Tantas e tantas vezes meu coração foi tomado pela dor de não saber quem eu sou por conta de um olhar mal lançado, de uma palavra mal dita, de um gesto mal feito.
Não posso me esgotar no olhar do outro. Talvez esteja aí a minha dor. Olhar-me sempre através do que o outro pensa, faz ou fala.  O olhar do outro muitas vezes me amedronta, me faz perder-me de mim... Reconhecer-me especial, saber-me como alguém que tem defeitos e fragilidades, e mesmo assim tem a capacidade de aguçar o olhar do outro, curioso por desvendar-me.
O olhar apressado anula todas as possibilidades de experimentar o que no outro está mais escondido. Lugares distantes do coração que só podem ser encontrados pela persistência do olhar que contempla. Contemplar é parar num lugar da onde não se consegue sair. É ficar, estabelecer vínculo, criar afetos... Mas aonde está essa tal sacralidade? E porque tantas vezes ela não parece fazer sentido pra mim quando pensada com relação a mim mesma. Há uma sacralidade em mim que muitas vezes não enxergo, não vejo. Talvez falte para mim um olhar devagar sobre mim . Ando me sentido temporária demais...
O que é meu e em mim está escondido? O que me faz ser eu?  Quero descobrir o que ainda não sei sobre mim e ainda sim optar por estar comigo. Porque, como nos diz padre Fabio, “amar é conhecer os defeitos e mesmo assim não saber viver sem”. Quero dar uma trégua a mim mesma. Preciso reconhecer meus limites e mesmo assim não querer viver sem mim! Ser eu mesma é um desafio...


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Do caos, nascem as estrelas...

Este blog nasceu de uma colisão de planetas.
Antes que meus amigos comecem a despender esforços intelectuais em milhões de possibilidades sobre meus novos e raros dotes astrológicos, explico-me.
Uma amada amiga minha, talentosa e bela jornalista, em um momento onde a dor me pegou de rasteira, trouxe-me a seguinte inspiradora frase de Chaplin: Não tenha medo dos confrontos. Os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas." Tratei de pensar em tal imagem. O espaço, infinito e amedrontador, os planetas isolados em seus raios de ação, as aproximações. Um planetinha está lá,sem fazer nada, o outro também... de repente se aproximam, como não quer nada e então...o choque! E do choque, de repente, uma pequena luz nascendo, brotando das cinzas. Pensando assim, tratei ainda de imaginar qual seria a frequência de tais acontecimentos. Sim, porque esse negócio de estrela surgindo no espaço não deve ser toda hora não!
Independente do tempo, o fato é que raramente nós humanos percebemos tais acontecimentos (talvez esteja sendo leviana em dizer raramente quando deveria dizer nunca, mas enfim... minha doce ignorância em assuntos meteorológicos... Se eu por acaso tivesse cursado meteorologia no CEFET quando soube que passei na prova, talvez tivesse propriedade, mas.. meu caminho foi outro). Fiquei imaginando então, que a metáfora do universo pudesse ser comparada ao ser humano... Muitos já fizeram isso, eu sei. Mas aqui não me importam as questões de originalidade que tanto nos inquietam no mundo da arte (pra quem não sabe, sou bailarina e essa história de ser original e criativo anda rondando meus pensamentos). Enfim, agora só importam-me as possibilidades de reflexões. Vamos a elas.
Então... cada ser humano é um imenso universo de possibilidades. Ora, se cada homem é um universo, imaginemos as tantas colisões que residem dentro de nós. De pequenos choques a grandes Big Bangs, podemos nos deparar com uma imensa quantidade de explosões que acontecem todos os dias, por conta de uma briga, de uma desilusão, de sentimentos de frustração, insuficiência. Imaginemos que existam, vários universos dentro deste infinito caos de possibilidades que é a galáxia. Será que, os planetas vizinhos, daqueles de porta com porta, de dar bom dia e boa tarde, e que sabem exatamente a hora que tal planetinha entra ou sai da sua esfera espacial, mesmo esses tão próximos, conhecem as colisões que ocorrem em cada pedacinho do espaço? Tantas estrelas brotam de cada um desses confrontos individuais e, seus vizinhos, preocupados com suas próprias colisões, não se dão conta. Quantas dores, angústias, alegrias, explodem de cada homem-universo e nós, vizinhos, não percebemos.
Em cada um de nós existem estrelas a serem encontradas. E estrelas, como nos diz Chaplin, nascem dos confrontos. Não queiramos somente a luz das estrelas sem passar pela dor dos confrontos. Ou, como nos fala padre Fabio de Melo, esse padre por quem tenho tanto carinho, “quem quiser levar a rosa para sua vida, terá de saber que com ela vão inúmeros espinhos. Não se preocupe a beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos...”. Queiramos as flores, as estrelas, mas que também saibamos lidar com a dor dos espinhos e dos confrontos. Saibamos nos reconciliar com nossas cicatrizes, geradas pelas tantas quedas vida fora.
Mais do que compartilhar colisões, este blog quer dividir estrelas.